Capítulo sete.

Domingo,04h12am

Acordei sentindo fortes dores na perna,pé,coxa,parecia que a dor do pé estava se espalhando pelo meu corpo e me deixando bem mal. Nunca fui de demonstrar minhas dores e fraquezas,mais seria difícil conviver com essa dor sem falar nada,e outra,minha avó,sempre foi muito observadora,concerteza ela perceberia que eu não estava bem.
Acendi a luz do abajur,e com dificuldade sentei na cama,estendi minha mão para abrir a gaveta da minha mini cômoda e peguei um dos remédios,que eu deveria ter tomado há uma hora atrás. Respirei fundo. Preciso de água,pensei. Como vou descer para pegar água?  Ai que vida difícil,conversava eu com meu psicológico,eu tinha plena certeza,que se eu tentasse descer,ia me esborrachar lá embaixo,e minha situação só pioraria,decidi ligar pra Dani,já que o Thiago deveria estar bem cansado com tudo o que aconteceu hoje.
No sexto toque,a Dani atendeu,e acatou o meu pedido,trouxe uma garrafinha d'água para mim e eu enfim respirei aliviada,pois daqui a alguns minutos,eu estaria livre dessas dores. Percebi que não conseguiria mais dormir,e fiquei pensando em alguma coisa para fazer,logo pensei em ver um filme,peguei meu notebook,e fui procurar o link salvo de um dos meus filmes preferidos,Cartas para Deus,assisti ao filme até o fim,e nem me dei conta de quando a dor passou,fechei o note,guardei,me deitei e voltei a dormir....

12h15pm
Acordei com a minha avó entrando no meu quarto com uma bela bandeja de almoço,ligou a televisão,e colocou a bandeja ao meu lado.
Catharina:come,jaja está na hora de você tomar seu remédio e você precisa estar alimentada
Clarisse:vó,para de me mimar
Catharina:não estou te mimando,estou cuidando de você-sorri largamente,que vó linda a minha-
Clarisse:vó,você se importaria se depois eu ficasse lá embaixo? Acho que ficar trancada nesse quarto até melhorar não vai me fazer bem-disse dando a minha primeira garfada no meu bife mal passado com cebola,batata gratinada,salada de beterraba,cenoura,agrião e acelga com arroz à grega-
Catharina:mais é claro que você pode descer,não só pode como deve,depois vou chamar seu irmão pra te ajudar. Ah,antes que eu me esqueça,a Rafa ligou aqui no telefone fixo,querendo saber como você estava,se já estava melhor,e perguntou se amanhã poderia vir aqui com a Júlia,e eu disse que sem problemas,tudo bem?
Clarisse:tudo vó,elas são bem vindas aqui-sorri-
Catharina:isso,agora,vai comendo que eu vou lá embaixo resolver algumas coisinha,daqui a pouco,a Lúcia vem aqui buscar a bandeija e o Thi vem te ajudar a descer tá?-beijou minha testa e saiu-
Quando terminei o almoço,fiquei conversando com a Thamires,o Ângelo e o Fábio pelo Whatsapp,contei a eles o que tinha acontecido comigo,e eles se prontificaram em vim me ver,o Fábio viria hoje,e o Ângelo vinha amanhã com a Thamires.
Minutinhos depois a Lúcia subiu com o Thiago,que me ajudou a descer devagar para não acontecer outra tragédia. Tomei meu remédio e fiquei jogando vídeo game com o meu avô enquanto o Thiago se arrumava para sair com uns amigos da faculdade. Depois de apanhar do meu vô no futebol por três vezes,cansei e me deitei em seu colo enquanto ele contava histórias do meu pai e eu me emocionava,pois sabia que o meu herói nunca mais estaria ali comigo,que o homem que dizia que me amava,e provava,nunca mais estaria comigo.
Me lembro perfeitamente do dia do acidente que matou meus pais,eu estava na escola com meus irmãos em suas respectivas salas,quando o Sr. Luiz,advogado dos meus pais nos retirou de nossas salas,na verdade,nos retirou da escola,e as notícias que vieram depois disso não foram nada agradáveis. Eu era uma pré-adolescente. Eu precisava deles. Logo na fase em que a vida de todos se complicam,eles se vão,por causa de um imprudente,um inútil,que se enche de bebidas e depois pega no volante,que não se importa com a vida dos outros,um irresponsável,que só quer saber de diversão e não se importa com as consequências. E adivinhem? Ele não foi preso. Pois é,esse é o Brasil que nós conhecemos. Sabe,ele até pegou uns anos de prisão,mais pegou liberdade,pois é,Brasil. Naquele dia,eu jurei vingança,queria de alguma forma fazer aquele homem pagar por tudo de ruim que ele estava me fazendo sentir,só que meus irmãos,avós e primos por algum motivo conseguiram tirar isso da minha cabeça. E de repente,essa história toda,vem a tona. Porque? Sem motivo?! Porque isso agora? Se nem a cara desse sujeito eu conheço? Não me deixaram o ver,não me deixaram saber seu nome,porque isso agora? Totalmente desnecessário,preciso tratar de tirar isso da minha cabeça,o mais urgente possível...

Segunda Feira,11h30am
Segunda,acabei de acordar. Como essa semana não haverá aula,eu estou um pouco mais tranquila. Mesmo de atestado médico por duas semanas,vou sim ao CT do Barcelona,prestar contas do porque não comparecerei por esses catorze dias no trabalho. Vou com meu avô,já que Neymar Júnior telefonou ontem lá pra casa o convidando para uma visita ao CT. Eufórico,meu vô aceitou,sem exitar.

Já no CT...
Pedro:não acredito,vou conhecer o Messi-vocês não têm noção de quanto o meu avô ama o Messi-
Clarisse:seu sonho,né vô?
Pedro:achei que nunca realizaria
Clarisse:não existe idade pra sonhar,pra realizar,também não,vô,isso só serviu,pra provar que sonhos se realizam
Pedro:isso tudo,graças a você,meu amor-o abracei-
Clarisse:vô,o Neymar vai ter que vim aqui liberar a sua entrada,porque eu não vou poder,vai ter que esperar,tá?-avisei quando chegamos na recepção,e ele se acomodou em um dos sofás de visita e puxou um papo com a recepcionista,fui indo falar com o diretor enquanto ligava pro Neymar,que me atendeu e disse que ia liberar meu vô. Falei com o diretor,e ele disse,que não haveria problemas,e que quando passasse os dias do atestado,eu poderia voltar normalmente ao trabalho.
Depois que saí daquela sala,fui sozinha em direção ao campo de treinamento,me sentei quietinha cumprimentando com um aceno o técnico e alguns jogadores que estavam bebendo água,a cena que vi depois daquilo me emocionou,de verdade,olhei para o Neymar e o vi sorrindo perdidamente ao ver a alegria do meu avô ao encontrar/conhecer o Messi,e isso deixou meu coração mais mole,além do normal,senti uma lágrima molhar meu rosto,podia parecer bobagem,mas pra mim não era,não tinha nada nesse mundo que pagasse ver a felicidade de uma pessoa ao realizar seus sonhos. Idaí que meu vô não é mais um jovem? Ele também sonha,também antes de dormir idealiza um mundo aonde ele gostaria de viver,é o normal do ser humano. Um homem que não sonha,não é um homem feliz. Vi o Messi ser super simpático com meu vô,e ai dele se não fosse,ia até ele,mesmo no estado em que eu me encontrava,e batia nele. O Messi autografou a camisa do meu vô,sim,meu vô foi com a camisa do Barcelona dele,número 10. Messi! Tirou foto,e fez várias outras coisas,estavam tão envolvidos num papo,que acho que se o seu Pedro pudesse,não sairia nunca dali. Meu vô cumprimentou todos,e ainda ganhei outra camiseta autografada,ganhou uma bola autografada,entre outras coisas,ou seja,fez a festa. Depois de um tempo,meu vô saiu de lá,pois os jogadores precisavam treinar! Saiu todo sorridente,se despediu de todos,e me ajudou a sair do CT,contando a sua emocionante experiência.
Já no carro,mandei um SMS no celular do Neymar,agradecendo o que ele fez,coisas como essas,não se acontecem toda hora,e meu vô aproveitou bastante,ele nem precisava falar,seu sorriso já dizia tudo.
Pedro:você não sabe,Clarie
Clarisse:sei sim,vô. Você viu o Messi,e também fo...
Pedro:não,não é isso que eu ia dizer
Clarisse:ah,tá,desculpa,o que era então?
Pedro:chamei o Messi pra almoçar lá em casa,amanhã,inclusive
Clarisse:é o quê,vô? Ai que vergonha,Deus-coloquei a mão na cabeça,não acreditando ainda nisso-
Pedro:ele aceitou-neguei-ele vai junto com o Neymar
Clarisse:que vergonha,vô
Pedro:ah,qual é? Desencana!-olhei pra cara dele-
Clarisse:o quê,vô? Para de andar com o Thiago,tá te influenciando,te levando para o mal caminho. Que palavreado é esse?
Pedro:sou velho na aparência,mas meu coração é super jovem
Clarisse:tudo bem então,né.
Logo chegamos na nossa humilde residência,e tive que ouvir meu vô contar tudo de novo sobre o Messi e os outros,como ele diz. Peguei uns fones que estavam largados na mesinha de centro,e coloquei pra ouvir Daylight,música,que particularmente,eu amo.
Clarisse: Here I am waiting, I'll have to leave soon,why am I holding on? We knew this day would come, we knew it all along How did it come so fast?(Aqui estou eu esperando,tenho que ir logo embora. Por que eu estou esperando? Sabíamos que este dia chegaria. Sabíamos o tempo todo, como chegou tão rápido?)
Thiago:a tradução dessa música é bem "acabou o amor",não?!-disse tirando meu fone,e me assustando ao mesmo tempo-ainda na d...
Clarisse:nem lembra,por favor,e outra,só estou ouvindo por que gosto dessa música
Thiago:ok então. Quer conversar?
Clarisse:não,obrigada. E você?
Thiago:nada a dizer. Topa uma partida de vôlei?-gargalhou-
Clarisse:não quero saber de vôlei tão cedo
Thiago:vou pegar o violão,canta comigo?
Clarisse:claro-cantar era um hábito,que nos lembrava nossos pais. A gente amava cantar-que música?-disse assim que ele voltou-
Thiago:escolhe
Clarisse:Até você voltar?
Thiago:boa pedida-começou a tocar-
Clarisse: Aqui sentado nessa mesa,só o copo de cerveja é minha companhia,e essa casa está tão cheia,e parece vazia sem você comigo
Thiago:E hoje está fazendo um ano,aqui no meu calendário ainda está marcando,o dia e o mês, foi a primeira vez,e o que me prometeu, será que se esqueceu?
Clarisse e Thiago: De todos nossos planos, nossos filhos, nosso apartamento. Da nossa lua de mel, do nosso casamento. Como pude acreditar nesse seu juramento? E agora estou sozinho outra vez... De copo sempre cheio, coração vazio. Tô me tornando um cara solitário e frio. Vai ser difícil eu me apaixonar de novo,e a culpa é sua. Antes embriagado do que iludido,acreditar no amor já não faz mais sentido,eu vou continuar nessa vida bandida... Até Você voltar.-nos olhamos,sorrindo um pro outro. Talvez essa música nos definisse um pouco,ou muito. O amor acabou virando uma utopia,o medo cresceu,a insegurança nasceu,e hoje,a única coisa que nos resta,é a esperança.